domingo, 19 de setembro de 2010

Matéria publicada no Jornal A Gazeta.

Gostar do professor faz aluno aprender com mais facilidade

O estudante que não se dá bem com o educador pode perder o interesse pela matéria que ele ensina

A Gazeta

Priscilla Thompson
ppessini@redegazeta.com.br

A boa relação que o seu filho mantém com o professor pode determinar a preferência dele por uma ou outra matéria e até mesmo melhorar o aprendizado. Essa é a conclusão da dissertação de mestrado da psicanalista e diretora da escola da Ilha-Florescer, em Vitória, Cecília Oliveira. E ela explica: "Se o aluno não se dá bem com o professor, pode apresentar dificuldade em assimilar os conteúdos e chegar a perder o interesse por um assunto".

Cecília trabalha há 25 anos com educação e, para elaborar o estudo, conversou com diversos professores e estudantes. Segundo ela, o bom relacionamento não tem necessariamente a ver com amizade. "O professor ocupa um lugar de referência para o aluno tanto quanto os pais ocupam para o filho. Muitos, porém, não percebem isso e acabam perdendo a oportunidade de tirar o melhor proveito dentro da escola", diz.

Na sala de aula, não apenas o aluno deve estar interessado em aprender, como também o professor em ensinar. E ensinar com respeito. Afinal, casos em que essa relação é conflituosa pode gerar até mesmo agressividade. "Essa agressão quase nunca é pessoal, como o professor pode pensar em um primeiro momento, mas tem a ver com essa dificuldade de estabelecimento de papéis", explica.

Quando, por outro lado, o aluno se identifica com quem está ensinando, consegue tirar da matéria muito mais do que o esperado, confirma a psicopedagoga Penha Peterli. "O gosto do aluno por uma disciplina pode ter a ver com as habilidades próprias dele, mas também com o vínculo estabelecido com o professor. A criança passa a respeitar e valorizar não só o profissional como também o assunto da sua matéria", diz.

Cabe aos pais e à escola, em conjunto, perceber quando a dificuldade de aprendizado está relacionada ao trabalho do professor, e tentar melhorá-la, diz Penha. "A criança, em geral, expressa quando não gosta do educador, dizendo que ele é chato, por exemplo. Isso não quer dizer que, de fato, ele seja. Mas é uma dica que deve ser olhada com mais cuidado", orienta.

O que fazer quando algo não vai bem

Converse.
Se o seu filho não gosta de uma matéria específica, converse com o orientador pedagógico e com o professor da disciplina

Investigue.
Tente perceber se a dificuldade é em decorrência da relação com o professor ou se tem a ver com alguma capacidade mais específica do aluno para alguma outra matéria

Preferências.
Em geral, os alunos não gostam de matérias que não dominam bem. Portanto, é preciso verificar se a falta de prazer tem a ver com uma deficiência de aprendizado

Aula particular.
Em alguns casos, um professor particular pode ajudar a sanar as dificuldade encontradas, principalmente quando o problema é decorrente de um atraso pedagógico

Cotidiano.
Ajude o seu filho a aproximar os conteúdos das matérias ensinadas com o
cotidiano. Quando a
criança percebe a aplicação prática de um conteúdo, desperta mais o interesse e aprende com mais facilidade

Identificação fez estudante gostar de números

Até o ano passado, quem perguntasse a Ana Carolina de Oliveira Ferreira, aluna do 9º ano, se ela gostava de Matemática ia ouvir um convicto "não" como resposta. Hoje, depois de quase um ano com um novo professor, a opinião dela já é outra. "Eu ainda prefiro História, mas também aprendi a gostar dos números", diz. Para ela, o jeito de ensinar de quem está lá na frente, diante da turma, faz toda a diferença. "O professor que domina mais a matéria e sabe ensinar divertindo os alunos é mais legal. Sempre tive uma relação boa com todos os professores, mas alguns fazem a diferença", declara. O resultado da mudança está nas notas de Ana Carolina. Até o ano passado, elas quase não ultrapassavam a média. Já este ano, estão alcançado a pontuação máxima. "Eu melhorei muito, e acho que é porque me identifico mais com esse professor. Tenho mais liberdade para tirar as dúvidas com ele e para fazer perguntas quando não sei a matéria", explica. A decoreba também ficou no passado, segundo ela. "Agora eu consigo entender as fórmulas, por exemplo, em vez de só decorar para a prova".

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