O professor deve entender as dificuldades dos estudantes com limitações
de raciocínio e desenvolver formas criativas para auxiliá-los.
De todas as experiências que surgem no caminho
de quem trabalha com a inclusão, receber um aluno com deficiência intelectual
parece a mais complexa. Para o surdo, os primeiros passos são dados com a
Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos têm o braile como ferramenta
básica e, para os estudantes com limitações físicas, adaptações no ambiente e
nos materiais costumam resolver os entraves do dia-a-dia.
Mas por onde começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se prender a relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das regulares precisam entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir o que interessa: quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles, para ensinar.
Mas por onde começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se prender a relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das regulares precisam entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir o que interessa: quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles, para ensinar.
No geral, especialistas na área sabem que
existem características comuns a todo esse público (leia a definição no quadro desta página). São três as principais dificuldades enfrentadas
por eles: falta de concentração, entraves na comunicação e na interação e menor
capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas, por não
compreender a representação escrita ou necessitar de um sistema de aprendizado
diferente. "Há crianças que reproduzem qualquer palavra escrita no quadro,
mas não conseguem escrever sozinhas por não associar que aquelas letras
representem o que ela diz", comenta Anna Augusta Sampaio de Oliveira, professora
do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP). As características de todas as outras deficiências você
pode ver no especial Inclusão, de NOVA ESCOLA.
A importância do foco nas explicações em sala de aula
A importância do foco nas explicações em sala de aula
Alunos com dificuldade de
concentração precisam de espaço organizado, rotina, atividades lógicas e
regras. Como a sala de aula tem muitos elementos - colegas, professor,
quadro-negro, livros e materiais -, focar o raciocínio fica ainda mais difícil.
Por isso, é ideal que as aulas tenham um início prático e instrumentalizado.
"Não adianta insistir em falar a mesma coisa várias vezes. Não se trata de
reforço. Ele precisa desenvolver a habilidade de prestar atenção com estratégias
diferenciadas para, depois, entender o conteúdo", diz Maria Tereza Eglér
Mantoan, doutora e docente em Psicologia Educacional da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que representem o quadrado, o retângulo e o círculo.
A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a complexidade. "A própria sequência de exercícios parecidos e agradáveis já vai ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar", comenta Maria Tereza, da Unicamp.
O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que representem o quadrado, o retângulo e o círculo.
A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a complexidade. "A própria sequência de exercícios parecidos e agradáveis já vai ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar", comenta Maria Tereza, da Unicamp.
O que é a deficiência intelectual?
É a limitação em pelo menos
duas das seguintes habilidades: comunicação, auto cuidado, vida no lar,
adaptação social, saúde e segurança, usam de recursos da comunidade,
determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. O termo substituiu "deficiência
mental" em 2004, por recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU),
para evitar confusões com "doença mental", que é um estado patológico
de pessoas que têm o intelecto igual da média, mas que, por algum problema, acabam
temporariamente sem usá-lo em sua capacidade plena. As causas variam e são
complexas, englobando fatores genéticos, como a síndrome de Down, e ambientais,
como os decorrentes de infecções e uso de drogas na gravidez, dificuldades no
parto, prematuridade, meningite e traumas cranianos. Os Transtornos Globais de
Desenvolvimento (TGDs), como o autismo, também costumam causar limitações. De
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população
mundial tem alguma deficiência intelectual.
Foi o
que fez a professora Marina Fazio Simão, da EMEF Professor Henrique Pegado, na
capital paulista, para conseguir a atenção de Moisés de Oliveira, aluno com
síndrome de Down da 3ª série. "Ele não ficava parado, assistindo à
aula", lembra ela. Este ano, em um projeto sobre fábulas, os avanços
começaram a aparecer. "Nós lemos para a sala e os alunos recontam a
história de maneiras diferentes. No caso dele, o primeiro passo foram os
desenhos. Depois, escrevi com ele o nome dos personagens e
palavras-chave", relata ela.
Escrita significativa e muito bem ilustrada
Escrita significativa e muito bem ilustrada
A falta de compreensão da função da escrita
como representação da linguagem é outra característica comum em quem tem
deficiência intelectual. Essa imaturidade do sistema neurológico pede
estratégias que servem para a criança desenvolver a capacidade de relacionar o
falado com o escrito. Para ajudar, o professor deve enaltecer o uso social da
língua e usar ilustrações e fichas de leitura. O objetivo delas é acostumar o
estudante a relacionar imagens com textos. A elaboração de relatórios sobre o
que está sendo feito também ajuda nas etapas avançadas da alfabetização.
A professora Andréia Cristina Motta Nascimento é titular da sala de recursos da EM Padre Anchieta, em Curitiba, onde atende estudantes com deficiência intelectual. Este ano, desenvolve com eles um projeto baseado na autoidentificação - forma encontrada para tornar o aprendizado mais significativo. A primeira medida foi pedir que trouxessem fotos, certidão de nascimento, registro de identidade e tudo que poderia dizer quem eram. "O material vai compor um livro sobre a vida de cada um e, enquanto se empolgam com esse objetivo, eu alcanço o meu, que é ensiná-los a escrever", argumenta à educadora.
Quem não se comunica... pode precisar de interação
Outra característica da deficiência intelectual que pode comprometer o aprendizado é a dificuldade de comunicação. A inclusão de músicas, brincadeiras orais, leituras com entonação apropriada, poemas e parlendas ajuda a desenvolver a oralidade. "Parcerias com fonoaudiólogos devem ser sempre buscadas, mas a sala de aula contribui bastante porque, além de verbalizar, eles se motivam ao ver os colegas tentando o mesmo", explica Anna, da UNESP.
Essa limitação, muitas vezes, camufla a verdadeira causa do problema: a falta de interação. Nos alunos com autismo, por exemplo, a comunicação é rara por falta de interação. É o convívio com os colegas que trará o desenvolvimento do estudante. Para integrá-lo, as dicas são dar o espaço de que ele precisa mantendo sempre um canal aberto para que busque o educador e os colegas.
Para a professora Sumaia Ferreira, da EM José de Calazans, em Belo Horizonte, esse canal com Vinicius Sander, aluno com autismo do 2º ano do Ensino Fundamental, foi feito pela música. O garoto falava poucas palavras e não se aproximava dos demais. Sumaia percebeu que o menino insistia em brincar com as capas de DVDs da sala e com um toca-CD, colocando músicas aleatoriamente. Aos poucos, viu que poderia unir o útil ao agradável, já que essas atividades aproximavam o menino voluntariamente. Como ele passou a se mostrar satisfeito quando os colegas aceitavam bem a música que escolheu, ela flexibilizou o uso do aparelho e passou a incluir músicas relacionadas ao conteúdo. "Vi que ele tem uma memória muito boa e o vocabulário dele cresceu bastante. Por meio dos sons, enturmamos o Vinicius."
A professora Andréia Cristina Motta Nascimento é titular da sala de recursos da EM Padre Anchieta, em Curitiba, onde atende estudantes com deficiência intelectual. Este ano, desenvolve com eles um projeto baseado na autoidentificação - forma encontrada para tornar o aprendizado mais significativo. A primeira medida foi pedir que trouxessem fotos, certidão de nascimento, registro de identidade e tudo que poderia dizer quem eram. "O material vai compor um livro sobre a vida de cada um e, enquanto se empolgam com esse objetivo, eu alcanço o meu, que é ensiná-los a escrever", argumenta à educadora.
Quem não se comunica... pode precisar de interação
Outra característica da deficiência intelectual que pode comprometer o aprendizado é a dificuldade de comunicação. A inclusão de músicas, brincadeiras orais, leituras com entonação apropriada, poemas e parlendas ajuda a desenvolver a oralidade. "Parcerias com fonoaudiólogos devem ser sempre buscadas, mas a sala de aula contribui bastante porque, além de verbalizar, eles se motivam ao ver os colegas tentando o mesmo", explica Anna, da UNESP.
Essa limitação, muitas vezes, camufla a verdadeira causa do problema: a falta de interação. Nos alunos com autismo, por exemplo, a comunicação é rara por falta de interação. É o convívio com os colegas que trará o desenvolvimento do estudante. Para integrá-lo, as dicas são dar o espaço de que ele precisa mantendo sempre um canal aberto para que busque o educador e os colegas.
Para a professora Sumaia Ferreira, da EM José de Calazans, em Belo Horizonte, esse canal com Vinicius Sander, aluno com autismo do 2º ano do Ensino Fundamental, foi feito pela música. O garoto falava poucas palavras e não se aproximava dos demais. Sumaia percebeu que o menino insistia em brincar com as capas de DVDs da sala e com um toca-CD, colocando músicas aleatoriamente. Aos poucos, viu que poderia unir o útil ao agradável, já que essas atividades aproximavam o menino voluntariamente. Como ele passou a se mostrar satisfeito quando os colegas aceitavam bem a música que escolheu, ela flexibilizou o uso do aparelho e passou a incluir músicas relacionadas ao conteúdo. "Vi que ele tem uma memória muito boa e o vocabulário dele cresceu bastante. Por meio dos sons, enturmamos o Vinicius."
Nenhum comentário:
Postar um comentário