Os surdos enquanto minoria linguística
Não se tem registro de quando os homens começaram a desenvolver comunicações que pudessem ser consideradas línguas. Hoje a raça humana está dividida nos espaços geográficos delimitados politicamente e cada nação tem sua língua ou línguas oficiais como por exemplo, o Canadá que possui a língua inglesa e a francesa. Os países que possuem somente uma língua oficial são politicamente monolíngues, os que possuem duas são biligues e os que possuem mais de duas, multilíngues. Mas em todos os países, existem minorias linguísticas que por motivo de etnia e/ou emigração mantém suas línguas de origem, embora as línguas oficiais dos países onde estas minorias coabitam ou politicamente fazem parte sejam outras. Este é o caso das tribos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos e dos imigrantes que se organizam e continuam utilizando suas línguas de origem, como nos Estados Unidos e na França. Os indivíduos destas minorias geralmente são discriminados e precisam se tornar bilíngues para poderem participar das duas comunidades. Pode-se falar do bilinguismo social e individual, o primeiro é quando uma comunidade por algum motivo precisa utilizar duas línguas, o segundo é a opção de um indivíduo para aprender outra língua além da sua materna. Geralmente os membros das minorias linguísticas se tornam indivíduos bilíngues por estarem inseridos em comunidades linguísticas que utilizam línguas distintas. Em todos os países os Surdos são minorias linguísticas como outras, mas não devido a imigração ou à etnia, já que a maioria nasce de famílias que falam a língua oficial da comunidade maior, a qual também pertencem por etnia; eles são minoria linguística por se organizarem por associações onde o fator principal de integração é a utilização de uma língua gestual-visual por todos os associados. Sua integração está no fato de terem um espaço onde não há repressão de sua condição de Surdo, podendo se expressar da maneira que mais lhes satisfazem para manterem entre si uma situação prazerosa no ato da comunicação. Quando imigrantes vão para outros países formando guetos a língua que levam geralmente é a língua ofical da sua cultura, sendo respeitada enquanto língua no país onde imigram, mas as línguas dos Surdos por serem de outra modalidade - gestual-visual - e por serem utilizadas por pessoas consideradas "deficientes" por não poderem na maioria das vezes expressarem-se como ouvintes eram desprestigiadas e até bem pouco tempo proibidas de serem usadas nas escolas e em casa de criança surda com pais ouvintes. Este desrespeito fruto de um desconhecimento gerou um preconceito e pensava-se que este tipo de comunicação dos surdos não poderia ser língua e se os surdos ficassem se comunicando por "mímica" eles não aprenderiam a língua oficial de seu país. Mas as pesquisas que foram desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa mostraram o contrário. Se uma pessoa surda puder aprender a língua de sinais da sua comunidade surda à qual será inserida, ela terá mais facilidade em aprender a língua oral-auditiva da comunidade ouvinte a qual também pertencerá porque nesse aprendizado que não pode ouvir os sons que emite, ela já trará internalizado o funcionamento e as estruturas linguísticas de uma língua de sinais a qual pôde receber em seu processo de aprendizagem um feed-back que serviu de reforço para adquirir uma língua por um processo natural e espontâneo. Isso ocorre porque todas as línguas se edificam a partir de universais linguísticos, variando apenas em termos de sua modalidade (oral-auditiva ou gestual-visual) e suas gramáticas particulares, transformando-se a cada geração a partir da cultura da comunidade linguística que a utiliza. Daí é preconceito e ingenuidade dizer hoje que uma língua é superior a qualquer outra já que ela enquanto sistemas linguísticos independem dos fatores econômicos ou tecnológicos, não podendo ser classificadas em desenvolvidas, subdesenvolvidas ou ainda primitivas. As línguas se transformam a partir das comunidades linguísticas que a utilizam. Uma criança surda precisará se integrar a Comunidade Surda de sua cidade para poder ficar com um bom desempenho na língua de sinais desta comunidade. Como os surdos estão em duas comunidades precisam manter esse bilinguismo social e uma língua ajuda na compreensão da outra.
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